(BBC Brasil) - Peritos afirmam ter
encontrado os restos mortais do escritor espanhol Miguel Cervantes, o autor do
clássico da literatura universal Dom Quixote. A descoberta foi anunciada nesta
terça-feira (17) em Madrid. Segundo os peritos, fragmentos da ossada de
Cervantes foram localizados no subsolo do Convento das Trinitárias, no centro
de Madri. Seus restos mortais estão misturados com os de dezenas de outras
pessoas, incluindo a esposa do escritor.
A localização dos restos mortais de
Cervantes não era um mistério absoluto. Havia registros de que ele tinha sido enterrado
no convento. No entanto, desde a morte do escritor, em 1616, o prédio fora
reconstruído e não se sabia se a ossada havia sido removida do local.
Por isso, uma equipe de 30
pesquisadores precisou usar câmeras infravermelhas, scanners 3D e mesmo um radar
especial para tentar localizar os restos de Cervantes. Em janeiro, toparam com
a tampa de um caixão com as iniciais "MC" num grupo de 33 câmaras
mortuárias.
Mas os peritos avisam que será muito difícil
separar os fragmentos ósseos do escritor das outras pessoas enterradas no
local.
"As ossadas estão em mau estado de
conservação e não permitem uma identificação individual de Miguel de
Cervantes", disse à BBC a cientista forense Almudena Garcia Rubio. "Mas estamos certos de que se
trata do local em que estão enterrados Cervantes e outras pessoas".
Autópsia - Peritos ainda
têm esperança de conseguir separar ossos de Cervantes dos outros enterrados com
ele. Análises mais detalhadas poderão possibilitar a separação dos ossos de
Cervantes se os peritos conseguirem realizar testes de DNA para descobrir quais
ossos não pertencem ao autor de Dom Quixote.
Numa entrevista coletiva, o perito Luis
Avial disse que Cervantes terá um novo funeral com honras de estado, também no
Convento das Trinitárias, e ganhará uma nova sepultura. "Cervantes pediu
para ser enterrado no convento e lá deve permanecer", afirmou Avial.
A ordem religiosa das Trinitárias ficou
famosa ao ajudar a pagar o resgate pedido por piratas que o sequestraram
durante uma viagem de navio pelo Mediterrâneo, em 1575. Cervantes ficou cinco
anos preso na capital da Argélia, Argel, trabalhando como escravo. A
experiência, por sinal, serviu de inspiração para um trecho de Dom Quixote. A
obra só começou a ser publicada em 1605.
Segundo planos do convento e da
prefeitura de Madri, que financiou as operações de localização dos restos do
autor de olho no potencial interesse turístico da descoberta, a cripta em que
Cervantes foi enterrado será aberta ao público no ano que vem para coincidir
com o 400º aniversário da morte do escritor.
Busca por Cervantes - A busca pela
tumba envolveu até o uso de um radar especial e de câmera infravermelhas. Para
o secretário municipal de Artes, Esporte e Turismo, Pedro Corral, o projeto
teve como objetivo não somente encontrar os restos mortais de Cervantes, mas
"honrar sua memória e estimular o público a aprender mais sobre ele".
Se hoje é um dos mais celebrados nomes
da literatura universal - Dom Quixote é uma mais vendidas obras de ficção da
história - Cervantes morreu pobre e em relativa obscuridade. Um destino
diferente do que teve o dramaturgo e poeta britânico William Shakespeare, que
também faleceu em 1616 mas já era celebrado no seu país. "O fim de
Cervantes foi o de um homem pobre", disse Corral.
Por outro lado, Cervantes, nascido em
1547, parece ter tido uma vida rica em aventuras; não apenas viajou bastante,
como também esteve em combate. Participou da legendária Batalha de Lepanto, em
que uma coalizão de reinos europeus derrotou o Império Otomano na Grécia, em
1571.
Embora tenha sido ferido gravemente na
batalha e perdido os movimentos do braço esquerdo, Cervantes continuou na
carreira militar ser aprisionado pelos piratas.
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