quarta-feira, 18 de março de 2015

Iniciais em caixão ajudam a localizar restos de autor de "Dom Quixote"

(BBC Brasil) - Peritos afirmam ter encontrado os restos mortais do escritor espanhol Miguel Cervantes, o autor do clássico da literatura universal Dom Quixote. A descoberta foi anunciada nesta terça-feira (17) em Madrid. Segundo os peritos, fragmentos da ossada de Cervantes foram localizados no subsolo do Convento das Trinitárias, no centro de Madri. Seus restos mortais estão misturados com os de dezenas de outras pessoas, incluindo a esposa do escritor.
A localização dos restos mortais de Cervantes não era um mistério absoluto. Havia registros de que ele tinha sido enterrado no convento. No entanto, desde a morte do escritor, em 1616, o prédio fora reconstruído e não se sabia se a ossada havia sido removida do local.
Por isso, uma equipe de 30 pesquisadores precisou usar câmeras infravermelhas, scanners 3D e mesmo um radar especial para tentar localizar os restos de Cervantes. Em janeiro, toparam com a tampa de um caixão com as iniciais "MC" num grupo de 33 câmaras mortuárias.
Mas os peritos avisam que será muito difícil separar os fragmentos ósseos do escritor das outras pessoas enterradas no local.
"As ossadas estão em mau estado de conservação e não permitem uma identificação individual de Miguel de Cervantes", disse à BBC a cientista forense Almudena Garcia Rubio. "Mas estamos certos de que se trata do local em que estão enterrados Cervantes e outras pessoas".

Autópsia - Peritos ainda têm esperança de conseguir separar ossos de Cervantes dos outros enterrados com ele. Análises mais detalhadas poderão possibilitar a separação dos ossos de Cervantes se os peritos conseguirem realizar testes de DNA para descobrir quais ossos não pertencem ao autor de Dom Quixote.
Numa entrevista coletiva, o perito Luis Avial disse que Cervantes terá um novo funeral com honras de estado, também no Convento das Trinitárias, e ganhará uma nova sepultura. "Cervantes pediu para ser enterrado no convento e lá deve permanecer", afirmou Avial.
A ordem religiosa das Trinitárias ficou famosa ao ajudar a pagar o resgate pedido por piratas que o sequestraram durante uma viagem de navio pelo Mediterrâneo, em 1575. Cervantes ficou cinco anos preso na capital da Argélia, Argel, trabalhando como escravo. A experiência, por sinal, serviu de inspiração para um trecho de Dom Quixote. A obra só começou a ser publicada em 1605.
Segundo planos do convento e da prefeitura de Madri, que financiou as operações de localização dos restos do autor de olho no potencial interesse turístico da descoberta, a cripta em que Cervantes foi enterrado será aberta ao público no ano que vem para coincidir com o 400º aniversário da morte do escritor.

Busca por Cervantes - A busca pela tumba envolveu até o uso de um radar especial e de câmera infravermelhas. Para o secretário municipal de Artes, Esporte e Turismo, Pedro Corral, o projeto teve como objetivo não somente encontrar os restos mortais de Cervantes, mas "honrar sua memória e estimular o público a aprender mais sobre ele".
Se hoje é um dos mais celebrados nomes da literatura universal - Dom Quixote é uma mais vendidas obras de ficção da história - Cervantes morreu pobre e em relativa obscuridade. Um destino diferente do que teve o dramaturgo e poeta britânico William Shakespeare, que também faleceu em 1616 mas já era celebrado no seu país. "O fim de Cervantes foi o de um homem pobre", disse Corral.
Por outro lado, Cervantes, nascido em 1547, parece ter tido uma vida rica em aventuras; não apenas viajou bastante, como também esteve em combate. Participou da legendária Batalha de Lepanto, em que uma coalizão de reinos europeus derrotou o Império Otomano na Grécia, em 1571.
Embora tenha sido ferido gravemente na batalha e perdido os movimentos do braço esquerdo, Cervantes continuou na carreira militar ser aprisionado pelos piratas.

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