sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Exposição fotográfica discute os motivos e a necessidade de destruir e de reter imagens

O que leva alguém a rasgar, destruir ou simplesmente jogar fora uma fotografia? O que de tão doloroso ou intolerável há nessas imagens? A curiosidade por estas histórias foi o ponto de partida da fotógrafa e artista visual Nicole Lima para criar e desenvolver o seu mais novo projeto: “Segunda Infância: Eu Sei Dizer Sem Pudor Que o Escuro me Ilumina”. A exposição fotográfica, realizada com o apoio do Fundo Municipal da Cultura, via Fundação Cultural de Curitiba, abre no domingo, dia 4 de outubro, às 12h, no Museu da Fotografia de Curitiba. Para realizar este trabalho, há mais de três anos a artista vem recolhendo e guardando negativos, slides e fotografias que os outros não querem mais. Muita coisa chegou por meio de doação, algumas revelam o motivo do descarte e trazem marcas de violência, outras contêm instruções de como devem ser eliminadas. Arquivos pessoais da artista também estão presentes, ela conta que na época que os pais dela se separaram, a mãe recortou o ex-marido de todas as fotografias e o ato a impressionou.
Este inventário que aqui apresento foi tecido a partir do entrecruzamento de imaginários vivos e mortos: restos de fotografias impressas descartadas por seus donos das quais me apropriarei para reapresentá-las destruídas ou reconstituídas, conforme as instruções de seus doadores”, explica  a fotógrafa. Num primeiro tempo a exposição se refere ao descarte e permite que o espectador participe triturando suas próprias fotografias e lembranças indesejáveis. Na segunda sala, uma pausa que invoca um olhar para dentro de si a partir, exclusivamente, da escuta. O ambiente é composto por depoimentos de cegos tardios em resposta a uma única pergunta: de que fotografias você se lembra?
De um lado, o desejo de destruir, do outro, o desejo de reter imagens, de acordo com a artista a exposição procura criar uma ponte entre essas oposições. As expressões que dão nome ao trabalho foram cunhadas pelo poeta Manoel de Barros. "Segunda infância" é a sobrevida dada às imagens descartadas. "Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina", alude às imagens latentes na memória dos deficientes visuais iluminadas por suas vozes. O terceiro ambiente, “A Sala da Separação”, expõe o espectador ao excesso de imagens e permite que ele mesmo decida o destino delas.

Sobre a artista - Nicole Lima é fotógrafa, crítica e pesquisadora em Artes e Linguagens Visuais, graduada em Arquitetura e Urbanismo, pela UFPR.  Atualmente integra o corpo docente do Centro Tecnológico da Universidade Positivo, onde ministra as disciplinas: Cultura Visual, Fotografia Autoral, Pesquisa em Fotografia e Composição e Estética.

A exposição de Nicole Lima pode ser visitada até dia 10 de dezembro, de terça a sexta das 9h às 12h e das 14h às 18h; sábados e domingos das 12h às 18h. O Museu da Fotografia Cidade de Curitiba está situado na rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 / Solar do Barão. Mais informações: 3321-3260.

Nenhum comentário:

Postar um comentário