O que leva alguém a rasgar, destruir ou
simplesmente jogar fora uma fotografia? O que de tão doloroso ou intolerável há
nessas imagens? A curiosidade por estas histórias foi o ponto de partida da
fotógrafa e artista visual Nicole Lima para criar e desenvolver o seu mais novo
projeto: “Segunda Infância: Eu Sei Dizer Sem Pudor Que o Escuro me Ilumina”. A
exposição fotográfica, realizada com o apoio do Fundo Municipal da Cultura, via
Fundação Cultural de Curitiba, abre no domingo, dia 4 de outubro, às 12h, no
Museu da Fotografia de Curitiba. Para realizar este trabalho, há mais de três
anos a artista vem recolhendo e guardando negativos, slides e fotografias que
os outros não querem mais. Muita coisa chegou por meio de doação, algumas
revelam o motivo do descarte e trazem marcas de violência, outras contêm
instruções de como devem ser eliminadas. Arquivos pessoais da artista também estão
presentes, ela conta que na época que os pais dela se separaram, a mãe recortou
o ex-marido de todas as fotografias e o ato a impressionou.
“Este inventário que aqui apresento foi
tecido a partir do entrecruzamento de imaginários vivos e mortos: restos de
fotografias impressas descartadas por seus donos das quais me apropriarei para
reapresentá-las destruídas ou reconstituídas, conforme as instruções de seus
doadores”, explica a fotógrafa. Num
primeiro tempo a exposição se refere ao descarte e permite que o espectador
participe triturando suas próprias fotografias e lembranças indesejáveis. Na
segunda sala, uma pausa que invoca um olhar para dentro de si a partir,
exclusivamente, da escuta. O ambiente é composto por depoimentos de cegos
tardios em resposta a uma única pergunta: de que fotografias você se lembra?
De um lado, o desejo de destruir, do
outro, o desejo de reter imagens, de acordo com a artista a exposição procura
criar uma ponte entre essas oposições. As expressões que dão nome ao trabalho foram
cunhadas pelo poeta Manoel de Barros. "Segunda infância" é a
sobrevida dada às imagens descartadas. "Eu sei dizer sem pudor que o
escuro me ilumina", alude às imagens latentes na memória dos deficientes
visuais iluminadas por suas vozes. O terceiro ambiente, “A Sala da Separação”,
expõe o espectador ao excesso de imagens e permite que ele mesmo decida o
destino delas.
Sobre a artista - Nicole Lima é
fotógrafa, crítica e pesquisadora em Artes e Linguagens Visuais, graduada em
Arquitetura e Urbanismo, pela UFPR.
Atualmente integra o corpo docente do Centro Tecnológico da Universidade
Positivo, onde ministra as disciplinas: Cultura Visual, Fotografia Autoral,
Pesquisa em Fotografia e Composição e Estética.
A exposição de Nicole Lima pode ser
visitada até dia 10 de dezembro, de terça a sexta das 9h às 12h e das 14h às
18h; sábados e domingos das 12h às 18h. O Museu da Fotografia Cidade de
Curitiba está situado na rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 / Solar do Barão.
Mais informações: 3321-3260.
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