terça-feira, 3 de novembro de 2015

Show “No Samba” reverencia o mais tradicional dos gêneros musicais brasileiros

Entre os anos de 1930 a 1945 a música brasileira viveu um período de apogeu. O desenvolvimento da indústria elétrica e da indústria fonográfica proporcionaram um impulso à expansão do primeiro veículo de comunicação de massa, o rádio. O panorama musical destes 15 anos, que ficaram conhecidos como a Era de Ouro, caracteriza-se, principalmente, pelo surgimento e reconhecimento de compositores regionais responsáveis pela criação de uma identidade musical nacional, pela complexidade e sofisticação dos arranjos, pela ascensão do samba e da marchinha como os estilos mais populares, além da intensa e ampla interação entre compositores, instrumentistas e cantores da época. O rádio era o principal veículo de divulgação da música e impulsionou a carreira de muitos artistas. Os discos de vinil foram se tornando cada vez mais acessíveis.
Tal fase da música brasileira, marcada por sucessos atemporais, como “Morena Boca de Ouro”, “Nega do Cabelo Duro”, “Touradas em Madri”, entre tantas outras canções, que até hoje são referências da nossa música, inspirou o cantor e ator Marcio Juliano para desenvolver o seu novo trabalho, resultado de uma pesquisa que já dura cinco anos, pelo menos. O show “No Samba” estreia dia 7 de novembro, sábado, às 20h, no Teatro José Maria Santos, em Curitiba. A temporada se estende até dia 22/11, sempre de sexta a domingo, às 20h.
O show destaca o repertório de sambistas consagrados, como Ary Barroso, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Assis Valente e Braguinha, mas não reproduz a estética, nem a sonoridade dos intérpretes da época. Trata-se de uma releitura que promove o diálogo entre o samba e outros gêneros musicais.  O talentoso músico curitibano Gabriel Schwartz além de tocar flauta, clarinete e saxofone é quem assina a direção musical. O idealizador, Marcio Juliano (voz e direção), que também estava à frente do aclamado show Noël, agora divide o palco com uma turma de virtuoses: Daniel Migliavacca (bandolim, violão tenor e cavaquinho), Lucas Melo (violão de sete cordas), Luiz Rolim (percussão).  A codireção artística e iluminação é de Nadja Naira, da Companhia Brasileira de Teatro, o cenário de Fernando Marés, o figurino de Áldice Lopes e a produção audiovisual de João Marcelo Gomes, grandes e antigos colaboradores da Cia Ilimitada, realizadora do projeto.
O conteúdo das letras foi o principal critério de seleção do repertório, não foi fácil diante de tamanha e vasta produção, mas escolhi ao todo 15 músicas. Embora também sejam interessantes e muito ricas musicalmente, não me deixei levar só pela melodia, mas sim pela narrativa. Refletem meu momento de vida pessoal, bem como o momento político, social e cultural do país”, conta Juliano. “Eu Quero um Samba” (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa), “Alegria” (Assis Valente e Durval Maia) e “Com Que Roupa?” (Noel Rosa) são algumas das escolhidas. “No Samba”, também inclui outros estilos musicais que na época faziam sucesso no Brasil, como “Judiaria”, uma guarânia composta por Lupicínio Rodrigues; “Sarambá”, composição com letra em francês e a cubana “Quizás, Quizás, Quizás”, somam no roteiro.
Nosso interesse não é preservar a estética tradicional do samba, com todo o respeito que o gênero merece, misturamos, recortamos e colamos sonoridades distintas neste show que acabou ganhando uma pegada com influências variadas da música moderna, sem preconceitos”, revela Schwartz. “Trata-se de um show inusitado, cuja linguagem vem sendo desenvolvida em trabalhos anteriores como Noël (Marcio Juliano) e Cyrk (Trio Quintina), com preocupação cênica e de roteiro, não é só um show de música, mas também não é um musical, tecnicamente seria um show cênico musical, mas ainda não há um termo para definir este estilo de apresentação”, complementa.
A participação virtual de um trio vocal feminino composto por Katia Drumond, Fátima Castilho e Roseane Santos e projeções mapeadas de vídeos em algumas músicas dão uma ideia do que esperar do trabalho que oferece não só entretenimento, mas abre espaço para protestar usando o samba como ferramenta e, sendo assim, vale até fusões mais radicais como samba e rap. “O público vai ver um show multidisciplinar, divertido, com interpretação bem-humorada e músicas muito bem escolhidas, compondo um repertório representativo desta rica fase da música popular”, adianta Schwartz.
O humor e o romantismo que o Marcio imprime nas escolhas de interpretação das canções, a complexidade e permeabilidade dos arranjos musicais, o virtuosismo dos músicos convidados, a política entrelaçada nas letras das canções, a instalação cenário/vídeo/plateia/palco sinalizam que nada no show é horizontal, despretensioso ou superficial. Ao contrário, tudo é vertical, poço profundo, mar revolto”, avisa Nadja.
“No Samba”, que pode ser lido também como uma negação do gênero, considerando o samba de raiz, brincando como se fosse “Não” em inglês, ainda assim oferece uma oportunidade de conhecer e resgatar uma das melhores fases da música popular. Por outro lado, “No Samba” também aponta para um caminho de retorno a este e outros gêneros musicais legitimamente brasileiros.

O Teatro José Maria Santos está situado na rua Treze de Maio, 655, São Francisco e os ingressos custam R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia). Mais informações: 3324-8208.

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