sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Anacrônica se reinventa em EP feito para as pistas

A banda Anacrônica está de volta com "Eu acho que vai chover". O EP foi maturado desde 2011, quando a última canção inédita - "Tardes em Guadalajara" - tinha sido lançada. Como o título do trabalho sugere, as quatro músicas da nova gravação são menos ensolaradas. A estética ligeiramente sombria e algo reflexiva, no entanto, revela que o grupo escolheu a pista para virar o próprio jogo e ousar mudança de rumo. O resultado é aquilo que o produtor Tomás Magno chama de "estranho perfeito", mas que também pode ser definido como "assinatura". Não é todo mundo que consegue.
E o público curitibano irá conhecer este novo trabalho da Anacrônica - formada por Bruno Sguissardi (guitarra e vocal), Marcelo "Gordo" Bezerra (bateria), Marcelinho França (baixo) e Sandra Piola (voz) - neste sábado (12), às 17h30, no Beer Garden Sláinte (alameda Pres. Taunay, 435, Batel).
"É mentira", com cara de single, abre o EP. É a canção que marca a atual fase da Anacrônica, uma combinação do som alternativo dos anos 90 com o novo rock feito para as pistas. A faixa-título vem a seguir e consegue a proeza de ser dançante praticamente sem o uso da caixa - bumbo, chimbal e programações dialogam com a guitarra cujo timbre que remete ao melhor da produção solo de John Frusciante. O cover de "Xixi nas estrelas" revigora o clássico dos anos 80 e fortalece o refrão composto por Guilherme Arantes em parceria com Paulo Leminski. Assinatura, lembra-se?
A grande surpresa encerra o EP. Paradoxal, "Um outro lugar" é a síntese de todos os talentos da banda. Tudo, rigorosamente, tudo o que a Anacrônica tem de melhor aparece ali: o vocal sem afetação de Sandra, a elegância da guitarra de Bruno, a precisão do baixo de Marcelinho e a doação do baterista Gordo. "Não fosse pelo dinheiro, não fosse pela paciência, não o desespero, nem a inocência", diz a letra, confessional, como a expiar o drama - uma dívida financeira já quitada - que quase pôs fim ao grupo. "Tudo vai mudar", insiste, "mesmo que tudo pareça igual". Música é mesmo uma profissão de fé.
Com referências a bandas como Cardigans, Moloko, Garbage, Red Hot Chili Peppers e Justice, além de Blondie e disco music, o EP "Eu acho que vai chover" coloca a Anacrônica entre as bandas responsáveis pelas melhores gravações da história recente do rock nacional. Registradas em três estúdios diferentes em São Paulo (Praia Bonita), Rio de Janeiro (Toca do Bandido) e Curitiba (Áudio Ataque) e mixadas em Londres (Sugar CaneStudios), as músicas foram finalizadas graças a um financiamento colaborativo que atingiu 112% da meta.
Depois da estreia promissora, com "Deus e os loucos" (Independente, 2009), a banda que abriu para Franz Ferdinand e ganhou musculatura na estrada prepara-se para um novo desafio: mostrar que é possível ter apelo comercial e relevância artística, algo que o rock produzido no Brasil se ressente neste momento. A Anacrônica está na chuva para se molhar. E não é mentira.

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