A estátua de Tiradentes esculpida pelo
paranaense João Turin e que ficava na praça com o mesmo nome foi retirada do
pedestal na noite de quinta-feira (25). A peça foi transportada para o Ateliê
João Turin, onde será restaurada pelo escultor Elvo Benito Damo, e deve
retornar à Praça Tiradentes em 60 dias.
Durante o trabalho de retirada da peça,
foi encontrada uma garrafa com manuscritos e algum objeto que teria sido
colocada pelo próprio escultor no local, em 1927. O prefeito Gustavo Fruet
acompanhava os trabalhos e presenciou o momento da coleta da garrafa.
Segundo a coordenadora de Acervos da
Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Denise Zanini, responsável pela logística
e por acompanhar os trabalhos do ateliê em nome do Município, os trabalhos de
restauração e confecção de moldes fazem parte de um projeto iniciado há cerca
de dois anos, depois que os direitos sobre o acervo do escultor foram comprados
pelo colecionador curitibano Samuel Ferrari Lago. Foi realizado um levantamento
do acervo e, após negociações entre a família Lago, o poder público e
descendentes de Turin, foram iniciados os trabalhos, no Atelier João Turin.
Descoberta - O conteúdo da garrafa
encontrada na quinta-feira será revelado na próxima semana na presença do
prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, do presidente da Fundação Cultural de
Curitiba, Marcos Cordiolli, e da equipe técnica da instituição e dos
restauradores.
“Agora,
a ansiedade é para conhecer o conteúdo deste texto que será aberto na próxima
semana com todos os cuidados que situação requer. Parabéns ao Samuel Ferrari
Lago, do Atelier João Turin, e ao Maurício Appel, gestor do projeto.
Reconhecemos o imprescindível trabalho que estão fazendo pela preservação e
difusão da obra de João Turin”, disse Cordiolli.
Sobre o projeto - Além da estátua de
Tiradentes, duas outras obras de Turin (1878-1949) pertencentes ao patrimônio
público municipal já estão sendo restauradas e ganhando moldes e pátina de
proteção: a peça Luar do Sertão (uma onça rugindo que fica na rotatória ao lado
da sede da Prefeitura) e a águia que faz companhia a Rui Barbosa na Praça
Santos Andrade. Elas devem voltar a seus locais originais em agosto.
A restauração das três peças faz parte
de um projeto maior, que envolve todo o acervo de Turin, reconhecido como um
dos maiores artistas paranaenses. O diretor de Patrimônio da Fundação Cultural
de Curitiba (FCC), Mauro Tietz, informa que a Fundação acompanha o trabalho
desde a retirada das obras que integram o patrimônio do Município até a
restauração e devolução aos locais originais.
Maurício Appel, gestor do acervo, diz
que é a primeira vez que uma restauração ponta-a-ponta da obra de um artista é
realizada no Brasil. O trabalho, conta, chamou a atenção até do Ministério da
Cultura, que está acompanhando o processo, pelo interesse museológico.
Atualmente estão sendo trabalhadas as
peças maiores, que também são mais complexas. Cada estátua leva, em média, um
mês para ser restaurada e ter seu molde retirado. “Há muita dilatação devido ao
tempo. Também verificamos pequenos buracos que poderiam comprometer as obras”,
informa Appel.
A onça de Luar do Sertão, por exemplo,
exposta ao ar livre desde 1969, estava a ponto de perder a cauda. A águia, na
praça desde 1936, também estava “bastante agredida”, segundo Appel. “O mais
interessante é que percebemos que as pessoas se preocuparam com as obras depois
que as retiramos. Isso mostra que elas gostam das esculturas, consideram que os
bens também são delas”, ressalta Appel. Ele prevê que a estátua de Tiradentes
também deve dar trabalho, pois está desde 1938 exposta ao tempo.
Os moldes que estão sendo feitos
permitirão que essas e outras obras de Turin sejam multiplicadas. Normas do
mercado preveem um limite de 12 reproduções de cada trabalho, que ainda assim
continuam sendo consideradas obras originais. Appel relata que o escultor tinha
dificuldade para reproduzir suas obras, devido à pouca estrutura da fundição
artística em Curitiba na época. Assim, grande parte das obras ainda é única.
Mostra - As obras deverão ser expostas
em Curitiba, no ano que vem. Mais cinco capitais brasileiras devem receber a
mostra, bem como Bruxelas – onde Turin estudou, na Real Academia de Belas Artes
– e Nova York. Também há a possibilidade de a exposição seguir para Paris, onde
o artista viveu entre 1911 e 1922.
As novas reproduções também poderão ser
comercializadas ou expostas em mais locais. A prioridade, ressalta Appel, será
para museus ou outros espaços abertos ao público. Apesar de os direitos de
propriedade das obras pertencerem à família Lago, os direitos autorais
continuam sendo da família de Turin. Foi Appel quem mediou as conversas entre
as duas famílias para que o projeto pudesse sair do papel.
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