sexta-feira, 26 de julho de 2013

Retirada para restauração, estátua de Tiradentes guardava relíquia

A estátua de Tiradentes esculpida pelo paranaense João Turin e que ficava na praça com o mesmo nome foi retirada do pedestal na noite de quinta-feira (25). A peça foi transportada para o Ateliê João Turin, onde será restaurada pelo escultor Elvo Benito Damo, e deve retornar à Praça Tiradentes em 60 dias.
Durante o trabalho de retirada da peça, foi encontrada uma garrafa com manuscritos e algum objeto que teria sido colocada pelo próprio escultor no local, em 1927. O prefeito Gustavo Fruet acompanhava os trabalhos e presenciou o momento da coleta da garrafa.
Segundo a coordenadora de Acervos da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Denise Zanini, responsável pela logística e por acompanhar os trabalhos do ateliê em nome do Município, os trabalhos de restauração e confecção de moldes fazem parte de um projeto iniciado há cerca de dois anos, depois que os direitos sobre o acervo do escultor foram comprados pelo colecionador curitibano Samuel Ferrari Lago. Foi realizado um levantamento do acervo e, após negociações entre a família Lago, o poder público e descendentes de Turin, foram iniciados os trabalhos, no Atelier João Turin.

Descoberta - O conteúdo da garrafa encontrada na quinta-feira será revelado na próxima semana na presença do prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, do presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, e da equipe técnica da instituição e dos restauradores.
Agora, a ansiedade é para conhecer o conteúdo deste texto que será aberto na próxima semana com todos os cuidados que situação requer. Parabéns ao Samuel Ferrari Lago, do Atelier João Turin, e ao Maurício Appel, gestor do projeto. Reconhecemos o imprescindível trabalho que estão fazendo pela preservação e difusão da obra de João Turin”, disse Cordiolli.

Sobre o projeto - Além da estátua de Tiradentes, duas outras obras de Turin (1878-1949) pertencentes ao patrimônio público municipal já estão sendo restauradas e ganhando moldes e pátina de proteção: a peça Luar do Sertão (uma onça rugindo que fica na rotatória ao lado da sede da Prefeitura) e a águia que faz companhia a Rui Barbosa na Praça Santos Andrade. Elas devem voltar a seus locais originais em agosto.
A restauração das três peças faz parte de um projeto maior, que envolve todo o acervo de Turin, reconhecido como um dos maiores artistas paranaenses. O diretor de Patrimônio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Mauro Tietz, informa que a Fundação acompanha o trabalho desde a retirada das obras que integram o patrimônio do Município até a restauração e devolução aos locais originais.
Maurício Appel, gestor do acervo, diz que é a primeira vez que uma restauração ponta-a-ponta da obra de um artista é realizada no Brasil. O trabalho, conta, chamou a atenção até do Ministério da Cultura, que está acompanhando o processo, pelo interesse museológico.
Atualmente estão sendo trabalhadas as peças maiores, que também são mais complexas. Cada estátua leva, em média, um mês para ser restaurada e ter seu molde retirado. “Há muita dilatação devido ao tempo. Também verificamos pequenos buracos que poderiam comprometer as obras”, informa Appel.
A onça de Luar do Sertão, por exemplo, exposta ao ar livre desde 1969, estava a ponto de perder a cauda. A águia, na praça desde 1936, também estava “bastante agredida”, segundo Appel. “O mais interessante é que percebemos que as pessoas se preocuparam com as obras depois que as retiramos. Isso mostra que elas gostam das esculturas, consideram que os bens também são delas”, ressalta Appel. Ele prevê que a estátua de Tiradentes também deve dar trabalho, pois está desde 1938 exposta ao tempo.
Os moldes que estão sendo feitos permitirão que essas e outras obras de Turin sejam multiplicadas. Normas do mercado preveem um limite de 12 reproduções de cada trabalho, que ainda assim continuam sendo consideradas obras originais. Appel relata que o escultor tinha dificuldade para reproduzir suas obras, devido à pouca estrutura da fundição artística em Curitiba na época. Assim, grande parte das obras ainda é única.

Mostra - As obras deverão ser expostas em Curitiba, no ano que vem. Mais cinco capitais brasileiras devem receber a mostra, bem como Bruxelas – onde Turin estudou, na Real Academia de Belas Artes – e Nova York. Também há a possibilidade de a exposição seguir para Paris, onde o artista viveu entre 1911 e 1922.


As novas reproduções também poderão ser comercializadas ou expostas em mais locais. A prioridade, ressalta Appel, será para museus ou outros espaços abertos ao público. Apesar de os direitos de propriedade das obras pertencerem à família Lago, os direitos autorais continuam sendo da família de Turin. Foi Appel quem mediou as conversas entre as duas famílias para que o projeto pudesse sair do papel.

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