A produção musical curitibana nos
últimos 30 anos resulta de uma série de programas desenvolvidos pela Fundação
Cultural de Curitiba e do trabalho realizado pelos conjuntos musicais da
instituição. Esse período da história da música na cidade, contextualizado na
linha do tempo que começa em meados do século 19, com a emancipação da
Província do Paraná, é o tema do livro “Curitiba & Música: Nos Acordes da
Fundação Cultural”, lançado este ano.
A edição, fruto da pesquisa das
historiadoras Aparecida Vaz da Silva Bahls e Lilia Maria da Silva, inicialmente
tinha como foco exclusivo a trajetória dos conjuntos musicais criados ou
apoiados pela Fundação Cultural, desde o início da instituição, em 1973, até
2013, ano em que o trabalho foi concluído. Mas a necessidade de inserir esse
recorte no universo da música e na história da cidade fez com que a pesquisa fosse
ampliada. Deixou de ser um trabalho institucional para se tornar uma das
principais referências bibliográficas sobre a história da música em Curitiba.
“A música e a Fundação Cultural sempre
caminharam juntas”, diz a pesquisadora Aparecida Bahls. “Só com o levantamento
de tudo o que se produziu na Fundação Cultural tínhamos um volume significativo
de trabalho, mas à medida que fomos conhecendo esse universo apaixonante,
sentimos a necessidade de fazer a sua contextualização. Vimos que muito antes
de 1970 já se produzia muita música em Curitiba”, explica Aparecida.
Década por década – As pesquisadoras
optaram por destacar as contribuições mais significativas de cada década desde
1853, ano da emancipação política do estado. O livro referência as primeiras iniciativas
da música de concerto, a música doméstica, os conjuntos orquestrais e corais
formados por imigrantes que aqui se estabeleceram, o surgimento das escolas e
conservatórios de música, as exibições operísticas e de conjuntos musicais e a
criação de sociedades artísticas.
Paralelamente à música erudita, a
música popular também se estabeleceu. As primeiras experiências de radiofonia
no Paraná e a criação de emissoras de televisão influenciaram a difusão dos
ritmos dançantes das décadas de 1950 e 60. Outros ritmos invadiram os salões de
baile e as big-bands se espalharam pelos bares, restaurantes e boates da
cidade, difundindo o mambo, o bolero, o samba, o tango e o foxtrot misturados
ao rock n’roll e à música popular brasileira.
Com a criação da Fundação Cultural de
Curitiba, grupos como a Camerata Antiqua de Curitiba, Conjunto Renascentista,
Banda Lyra, Orquestra de Música Popular Brasileira, Coral Brasileirinho, entre
outros, passaram a fazer parte do cenário musical curitibano. O percurso pela memória
e história da música encerra com a Oficina de Música, que no livro ganha um
capítulo especial, dedicado a revelar todas as fases desse importante evento
musical da cidade que já completou 34 anos de existência.
Depoimentos – Nos mais de três anos de
pesquisa, as autoras consultaram inúmeras fontes, como programas de concertos,
publicações, relatórios, jornais de época, fotografias, entre outros
documentos, além de realizar mais de 30 entrevistas com músicos, maestros,
produtores, diretores e ex-diretores dos grupos musicais e da Oficina de
Música.
“Os depoimentos, além de fundamentais
para a coleta de dados, deram um sabor especial ao texto”, avalia Aparecida. As
pesquisadoras chegaram a viajar ao Rio de Janeiro para obter os depoimentos dos
primeiros diretores da Oficina de Música - os maestros Roberto de Regina
(também um dos fundadores da Camerata Antiqua de Curitiba), Paulo Bosísio,
Lutero Rodrigues e Roberto Gnatalli (idealizador do Conservatório de MPB).
“As entrevistas foram registros
importantíssimos, pois nem tudo está documentado. Elas nortearam o nosso
trabalho”, confirma a historiadora Lilia Maria da Silva. Sobre os depoimentos
dos ex-diretores da Oficina, ela diz que foram muito marcantes. “Foi encantador
ouvi-los falar sobre as estratégias que usaram para consolidar esse projeto e
hoje estão todos muito felizes e satisfeitos em ver que a Oficina se tornou uma
política pública, algo muito maior”, conta Lilia Maria.
Outra entrevista marcante para as
historiadoras foi com o maestro Beppi, fundador da banda Beppi e seus Solistas,
uma das mais tradicionais de Curitiba. “É uma pessoa muito singular. Ele nos
passou várias fontes e foi fundamental para resgatarmos a história da música
nos anos 50 – a música que animou boates, restaurantes dançantes e casas
noturnas”, diz Lilia.
Todos os depoimentos foram gravados (a
maioria em vídeo), depois foram transcritos e agora fazem parte do acervo da
Casa da Memória, onde podem ser consultados para outras pesquisas. A pesquisa
foi apresentada pela primeira vez durante a 34ª Oficina de Música de Curitiba e
o lançamento do livro aconteceu em março, junto com o concerto de abertura da
temporada deste ano da Camerata Antiqua de Curitiba.
O livro foi editado pelo Instituto
Curitiba de Arte e Cultura e pela Fundação Cultural de Curitiba como parte da
coleção “Edições Casa Romário Martins”, e encontra-se à venda na Capela Santa
Maria (Rua Conselheiro Laurindo, 273) e na Livraria Dario Vellozo (Praça
Garibaldi, 7). Em parceria com a Editora da UFPR será produzida uma edição
digital, com links de vídeos e gravações, de acesso gratuito.
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