Potência e vigor são características
das duas montagens que o Ballet de Londrina apresenta na turnê 2014 que chega
ao palco do Guairinha neste final de semana. A ideia do diretor Leonardo Ramos
foi reunir no mesmo programa duas obras de sucesso intervaladas por 15 anos e
que evidenciam o amadurecimento da linguagem da companhia paranaense. As
escolhidas: “... à Cidade” e “A Sagração da Primavera”.
“... à Cidade”, coreografia original de
1996, foi remontada no fim do ano passado para as comemorações de duas décadas
de história do grupo. Ela reproduz nos corpos dos bailarinos o vibrante
movimento urbano, ao som do bandoneon de Astor Piazzolla. Tudo é energia nesta
composição: personagens que despencam de tecidos suspensos, lances acrobáticos,
o grito ensurdecedor de uma bailarina. O cotidiano da metrópole pulsa em
formações predominantemente coletivas e com diagonais bem demarcadas.
O efeito de velocidade se dá, no
espetáculo, pela multiplicação de imagens que acontecem paralelas e que
embaralham as vistas do espectador. “Na década de 90, era o início da difusão
da internet, da linguagem cortada do videoclipe, e este caos está no
espetáculo. Muitos espectadores acabam voltando ao teatro para rever a
coreografia e captar o máximo de detalhes”, conta Leonardo Ramos. Para ele, é
como se o espectador observasse a cidade a partir da janela de um veículo em
movimento.
Já “A Sagração da Primavera”, que
estreou em 2011, se mantém no repertório da companhia paranaense pelo sucesso
contínuo desde então. A releitura da obra do compositor russo Igor Stravinsky
joga luz sobre a violência primordial do homem e dos ciclos da natureza. O
diretor conserva a trama original – uma mulher que é escolhida entre as virgens
para ser sacrificada e oferecida aos deuses em prol da fertilidade da terra –
mas inova na forma de representar coreograficamente a história. Movimentos
agressivos e rentes ao chão contornam o jogo de perseguição dos mais fracos
pelos mais fortes.
“Os dois trabalhos têm uma energia
muito forte, mas é interessante notar como fomos deixando de lado, com o tempo,
tudo o que não é movimento, a ponto de termos em ‘A Sagração da Primavera’ um
palco praticamente limpo. Executamos a música dificílima de Stravinsky sem
precisar de mais nada além da dança, sem depender de apoios como cenários e
figurinos elaborados”, analisa Ramos.
Na concepção do diretor, as duas
montagens, quando colocadas lado a lado, oferecem um retrato estético da
história do Ballet de Londrina. “O público terá uma oportunidade única:
confrontar dois momentos importantes e muito específicos da companhia. São
trabalhos com muitas diferenças, que mostram que, na década de 90, já existia
qualidade e que ela foi se somando a uma singularidade”.
Ramos também se refere à passagem dos
movimentos verticais, mais convencionais e que caracterizavam a primeira fase
do grupo, ao desenvolvimento de coreografias horizontalizadas, que
impulsionaram os bailarinos a buscarem novos eixos de equilíbrio e sustentação.
Tal estética atinge o seu ápice em “A Sagração da Primavera” e é considerada
pela crítica como marca do Ballet de Londrina na dança brasileira.
Este programa, ao colocar em revisão as
duas linguagens, fez com que o grupo adaptasse seu treinamento e retornasse a
antigos exercícios de preparação. “Os espetáculos exigem lógicas corporais muito
distintas e, mesmo para os bailarinos mais antigos, é muito difícil dançar na
vertical. Tornamo-nos especialistas naquilo que fazemos e precisamos ampliar
nossas especializações”, diz Leonardo. Além dos ensaios de “...à Cidade” e “A
Sagração da Primavera”, que percorrem o Brasil ao longo do ano, o Ballet de
Londrina atualmente dedica-se também à elaboração de nova montagem que estreia
em outubro.
As apresentações do Ballet de Londrina acontecem
no sábado (20), às 20h, e no domingo (21), às 19h, com ingressos custando R$ 20,00
e R$ 10,00 (meia).
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