“A Anta de Copacabana” é o texto que a
Cia. Portátil escolheu para sua volta a Curitiba, depois de anos mais
concentrada em trabalhos no Rio de Janeiro. Para o reencontro, a companhia
teatral escolheu o aconchego da Bicicletaria Cultural, que recebe o espetáculo
de 12 a 28 de setembro, com apresentações às sextas-feiras, sábados e aos
domingos, às 19h.
A obra do dramaturgo Rafael Camargo
expõe o trágico e o bizarro humano ao discorrer sobre a bela, mágica, e por
vezes triste, passagem que se chama viver. O texto é conhecido, mas tem
novidade no formato da montagem que experimenta os princípios do Teatro da
Inação, uma pesquisa de linguagem que a Cia Portátil vem desenvolvendo e que
ganha corpo neste trabalho, batizado pelo grupo de “stand up drama”.
A proposta é emprestar o “clima” do
‘stand up comedy’ - um ator sozinho no centro da cena com um microfone e um
forte trabalho de iluminação -, para dar conta de um texto com uma pegada
dramática, mas que não dispensa o humor com tempero mais ácido, o que traz
novas tonalidades ao trabalho. Com a ‘luz na cara’ estará o ator Adriano Petermann,
um dos fundadores da companhia, que segue à frente da Cia. Portátil junto com a
atriz Stella Maris Moreira.
Petermann explica que tinha convites
para teatros tradicionais e espaços maiores de Curitiba, mas encontrou no clima
que envolve a Bicicletaria Cultural as propostas de vida que gostaria de
apoiar. “Senti que ali é onde está o movimento que me interessa. Não quero me
apresentar para ator, gostaria muito que um público variado tivesse contato com
este trabalho”, diz. A peça, segue ele, fala da loucura que nós mesmos
inventamos e que nos prendeu a uma realidade criada por nós. “E a Bicicletaria
vai na contramão dessa loucura social consumista em que nos prendemos”.
“A Anta de Copacabana”, “Tantã” e o “Guarda
Noturno” fazem parte de uma trilogia sobre a solidão, loucura, a existência e
sua condição. “É uma espécie de divertimento sádico, um prazer humano que acha
graça da própria ferida tentando, quem sabe, exorcizar estes fantasmas que
rondam por toda a vida - e por toda a morte, talvez”, investiga Adriano
Petermann. É um texto que fala sobre o surto. Como uma criança, a loucura
quebra regras, convenções e revela a estúpida hipocrisia do cotidiano.
Obcecado pelo tão carismático bairro do
Rio, Copacabana, aprisionado em sua existência, o morador do bairro vive num
emaranhado de lembranças e divagações à espera de um sinal que o liberte. “Um
tanto de filosofia, delírio, poesia e agressividade pontuam o discurso,
permeando o universo assustador e mágico que é a loucura, a vida e a morte”,
completa o ator, sobre o texto que estreou em 1999, passou por São Paulo e
também foi destaque do FRINGE, no Festival de Curitiba de 2003 e no Festival de
Inverno da UFPR em Antonina.
Entre as histórias interessantes que
envolvem a produção, Petermann lembra o convite de ninguém menos que o ator,
dramaturgo e cineasta Domingos de Oliveira. “Como ele não conseguiu ver a peça
pediu que eu a montasse para ele e assim o fiz, na sala da casa dele”, conta.
“Foi muito emocionante para mim, afinal ele conviveu, conheceu os personagens
mostrados na peça. Ao final, emocionado disse que eu consegui levar Copacabana
para dentro da sala dele”.
História - A Cia Portátil de Teatro
surgiu em 2000, em Curitiba, em torno do interesse de Alan Raffo, Anderson
Fregolente, Adriano Petermann e Rodrigo Ferrarini em estudar o gênero cômico e
suas possibilidades estéticas. Produziu espetáculos, curtas metragens e
realizou eventos. Atuou com inúmeros artistas convidados como (Rafael Camargo,
Alexandre Nero, Fabiula Nascimento, Maureen Miranda, Gilson Fukushima, entre
outros) e também agregou novos artistas ao núcleo principal (Adriana Alegria,
Jussara Batista, Wagner Corrêa, Marcel Szymansky e Paulo Marques). Entre seus
espetáculos de destaque estão “As Fabulosas” e “Linguiça no Campo”. “A Cia. é
um catalisador de ideias e artistas, desenvolvendo assim uma linguagem e uma
estética que fala ao público de hoje”, diz Adriano, reafirmando as constantes
parcerias para as quais as portas da companhia continuam abertas.
Neste retorno, completa ele, o grupo
segue interessado em levantar questões pertinentes à contemporaneidade e
produzir espetáculos críticos e bem humorados que dialoguem de forma direta com
o público. No período em que morou no Rio de Janeiro, Petermann fez vários
trabalhos, entre os quais novelas e programas globais como Além do Horizonte, A Diarista e A Grande Família, além da participação em Vidas em Jogo, novela da
RIC.
A Bicicletaria Cultural está situada na
rua Presidente Faria, 226, Centro e os ingressos para “A Anta de Copacabana”
custam R$ 10,00 e R$ 5,00 (quem for de bike paga meia entrada). Mais
informações: 3153-0022.
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