Nos anos de 1960, uma garotinha de
classe média de Buenos Aires, indignada com as notícias de violência e guerras,
gritou: “Parem o mundo, que eu quero descer”. Essa e muitas outras frases de
Mafalda - principal personagem de quadrinhos do cartunista argentino Quino -
deram a volta ao mundo, foram traduzidas em vinte línguas e continuam atuais. É
por isso que, nesta segunda-feira (29), velhos e novos fãs da menina
inconformista, que vivia questionando políticos, economistas e adultos em
geral, comemoram seu cinquentenário.
Ao longo de todo o ano, Mafalda e seu
criador, Quino, foram homenageados na Espanha, na França e em países da América
Latina. Mas a festa de aniversario oficial ocorre em San Telmo – bairro de
Buenos Aires, onde a menina rebelde teria nascido no dia 29 de setembro de
1964. Nessa data, ela apareceu pela primeira vez, em uma tira em quadrinhos da
revista argentina “Primeira Plana”.
Mafalda já tem uma estátua em San Telmo
mas, aos 50 anos, não estará mais sozinha: vai festejar o aniversário com dois
amiguinhos, a fofoqueira Susanita (que só pensa em casar com um bom partido e
ter filhos) e o materialista Manolito (cujo sonho é ter uma enorme rede de
supermercados), que também vão ganhar estátuas nesta segunda-feira.
Baixinha, de cabelos curtos adornados
por um enorme laço, Mafalda nasceu com seis anos e – apesar de ter sobrevivido
menos de uma década (Quino decidiu parar de desenhá-la em 1973, três anos antes
do último golpe militar argentino) – ganhou fama internacional. O escritor e
sociólogo italiano Umberto Eco, autor de "O Nome da Rosa", chegou a batizá-la de
“heroína enraivecida”.
Mafalda comentava os acontecimentos da
época: eram tempos de Guerra Fria e ditaduras na América Latina. Mas suas
frases, criticando a injustiça social, a destruição do meio ambiente e a falta
de sensibilidade dos governantes, parecem ter sido ditas ontem. É o caso da
tirinha em que pergunta o que há de errado com a “família humana” e que “todos
querem ser o pai”.
Aos 81 anos, o próprio Quino manifesta
sua surpresa com a personagem que ganhou vida própria. Em entrevista em abril
passado, na inauguração da Feira do Livro em Buenos Aires, ele disse: “Fico
surpreso quando vejo como temas que abordei há 50 anos permanecem atuais. Até parece que desenhei a tira hoje. Deve ser porque o mundo continua cometendo os
mesmos erros”.
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