quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Concerto inédito em Curitiba une Antonio Vivaldi e John Cage

Uma atração musical inusitada marca o fim de semana, com a Orquestra de Câmara de Curitiba executando o concerto “As Oito Estações”, que tem no repertório “As Quatro Estações”, a mais conhecida obra do italiano Antonio Vivaldi, e o “Quarteto de Cordas em Quatro Partes”, do polêmico norte-americano John Cage. Com direção musical e violino solo a cargo de Rodolfo Richter, o espetáculo inédito em Curitiba acontece na Capela Santa Maria Espaço Cultural, com sessões às 20h de sexta-feira (15) e às 18h30 de sábado (16).
As apresentações, que integram a temporada 2014 patrocinada pelo Ministério da Cultura e pela Volvo, serão antecedidas por palestras de Márcio Steuernagel, premiado compositor, mestre em Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e regente da Orquestra Filarmônica da UFPR. O público também terá a oportunidade de acompanhar o ensaio geral da orquestra, às 10h de quinta-feira (14), na Capela Santa Maria Espaço Cultural, com entrada franca.
Inovadores, cada um em seu tempo, Vivaldi e Cage estarão unidos sob a direção musical do violinista curitibano Rodolfo Richter, que responde desde 2012 pela direção artística de Música Antiga da Oficina de Música de Curitiba. O músico desenvolve uma carreira internacional e vive em Londres, onde é professor da conceituada Royal College of Music. “O desafio deste programa reside no paradoxo de tocar Vivaldi como Cage e Cage como Vivaldi”, destaca Richter.
Os quatro movimentos da obra de Cage – também batizados de Verão, Outono, Inverno e Primavera – serão executados intercalados aos de Vivaldi, numa combinação que transcende séculos. O concerto, que não terá intervalos entre os movimentos, permite o diálogo entre passado e presente. “Vivaldi é gráfico em sua composição, levando a plateia a enxergar o quadro descrito pela música. Cage é mais contemplativo, despertando no ouvinte a reflexão sobre a obra”, explica Richter, que gravou “As Oito Estações” com a B’Rock Baroque Orchestra, grupo belga conhecido por misturar música antiga e contemporânea.
O desafio aceito pela Orquestra de Câmara de Curitiba cria uma performance histórica, mostrando que as diferenças entre passado e presente estão sendo gradativamente apagadas. “O moderno ‘Quarteto de Cordas em Quatro Partes’ de Cage clama pelos sons mais leves de uma orquestra barroca”, enfatiza Richter.

Os compositores – Um dos mais polêmicos compositores contemporâneos – e ironicamente menos ouvido, pela dificuldade de sua produção chegar ao público –, o norte-americano John Cage foi um dos pioneiros daquilo que ficou conhecido como movimento da música aleatória, na qual os elementos de composição são deixados ao acaso. O resultado é uma linguagem pouco convencional, gerando uma música experimental, de textura complexa e esteticamente desafiadora, com o uso de instrumentos não convencionais ou a utilização não convencional de instrumentos conhecidos.
“Quarteto de Cordas em Quatro Partes” foi criado por John Cage em 1950, e é uma de suas útimas obras não inteiramente aleatória, com a inclusão de harmonias tradicionais. Na peça, o compositor usou uma nova técnica, que consiste em lidar com sonoridades fixas, ou acordes. O trabalho explora ideias da filosofia indiana e é baseado nas quatro estações do ano – primavera, verão, outono e inverno –, sendo que cada uma delas está associada a uma força particular de criação, preservação, destruição e repouso. Desde 1946 o interesse de Cage estava em compor música para "uma mente sóbria e tranquila, tornando-se suscetível às influências divinas", ao contrário de música para expressar sentimentos e ideias.
Antonio Vivaldi nasceu em Veneza (Itália) e tornou-se célebre por sua maestria musical e suas composições barrocas. A música de Vivaldi é particularmente inovadora, quebrando com a tradição consolidada em esquemas. O compositor deu brilho à estrutura formal e rítmica do concerto, repetidamente procurando contrastes harmônicos, inventando melodias e trechos originais. Ele soube conciliar os elementos descritivos da obra com suas exigências de músico puro, de inventor do concerto clássico.
Para atingir seus objetivos, Vivaldi utiliza na obra “As Quatro Estações” os instrumentos de cordas com invenção e engenhos ilimitados. Ouvindo-se a obra, é possível enxergar as paisagens, mas é a beleza dos sons que emociona.

O diretor e solista – Rodolfo Richter é considerado um dos violinistas barrocos mais inspirados de sua geração, apresentando-se regularmente como solista e diretor de importantes conjuntos e orquestras barrocas europeias, com recitais em todo o mundo. Além de gravar discos na sua especialidade, também é respeitado compositor de música contemporânea, resultando numa interessante abordagem da música antiga, cheia de imaginação.
Tem colaborado regularmente em concertos e gravações com músicos como Andrew Manze, Richard Egarr, Monica Huggett, Giuliano Carmingola, Melvyn Tan, Roel Dieltiens, Gustav Leonhardt. Como diretor, tem trabalhado com frequência ao lado de cantores como Juanita Lascarro, Raquel Andueza, Simone Kermes, Gemma Bertagnolli e Bernarda Fink.
Desde 2002, Richter é membro do aclamado Palladian Ensemble (atualmente conhecido como Palladians). Destaques da temporada 2012-13 incluem apresentações na Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, China, Austrália, Bélgica, França, Holanda, Estônia, Alemanha e Japão.
Rodolfo iniciou seus estudos como violinista moderno com Moysés de Castro, Wusthoff Klaus e Pinchas Zuckermann e estudou composição com Hans-Joachim Koellreutter e Pierre Boulez. Mais tarde especializou-se em violino barroco com Monica Huggett, na Royal Academy of Music, e foi premiado no prestigiado Concurso Internacional de Early Music for Ensembles, em Bruges (Bélgica – 2000), além de obter o primeiro prêmio no Concurso Internacional de Violino Antonio Vivaldi (2001). Atualmente é spalla da Academy of Ancient Music (Inglaterra), diretor convidado do Bach Collegium San Diego (EUA) e professor de violino barroco no Royal College of Music em Londres. Também comanda cursos na Guildhall School of Music and Drama (Londres) e na Royal Scottish Academy of Music and Drama (Glasgow - Escócia).

Os ingressos para os concertos custam R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia), com pagamento somente em dinheiro. 

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