Uma atração musical inusitada marca o
fim de semana, com a Orquestra de Câmara de Curitiba executando o concerto “As
Oito Estações”, que tem no repertório “As Quatro Estações”, a mais conhecida
obra do italiano Antonio Vivaldi, e o “Quarteto de Cordas em Quatro Partes ”, do
polêmico norte-americano John Cage. Com direção musical e violino solo a cargo
de Rodolfo Richter, o espetáculo inédito em Curitiba acontece na Capela Santa
Maria Espaço Cultural, com sessões às 20h de sexta-feira (15) e às 18h30 de
sábado (16).
As apresentações, que integram a
temporada 2014 patrocinada pelo Ministério da Cultura e pela Volvo, serão
antecedidas por palestras de Márcio Steuernagel, premiado compositor, mestre em
Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor da Escola de
Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e regente da Orquestra Filarmônica da
UFPR. O público também terá a oportunidade de acompanhar o ensaio geral da
orquestra, às 10h de quinta-feira (14), na Capela Santa Maria Espaço Cultural,
com entrada franca.
Inovadores, cada um em seu tempo,
Vivaldi e Cage estarão unidos sob a direção musical do violinista curitibano
Rodolfo Richter, que responde desde 2012 pela direção artística de Música
Antiga da Oficina de Música de Curitiba. O músico desenvolve uma carreira
internacional e vive em Londres, onde é professor da conceituada Royal College
of Music. “O desafio deste programa reside no paradoxo de tocar Vivaldi como Cage
e Cage como Vivaldi”, destaca Richter.
Os quatro movimentos da obra de Cage –
também batizados de Verão, Outono, Inverno e Primavera – serão executados
intercalados aos de Vivaldi, numa combinação que transcende séculos. O
concerto, que não terá intervalos entre os movimentos, permite o diálogo entre
passado e presente. “Vivaldi é gráfico em sua composição, levando a plateia a
enxergar o quadro descrito pela música. Cage é mais contemplativo, despertando
no ouvinte a reflexão sobre a obra”, explica Richter, que gravou “As Oito
Estações” com a B’Rock Baroque Orchestra, grupo belga conhecido por misturar
música antiga e contemporânea.
O desafio aceito pela Orquestra de
Câmara de Curitiba cria uma performance histórica, mostrando que as diferenças
entre passado e presente estão sendo gradativamente apagadas. “O moderno
‘Quarteto de Cordas em
Quatro Partes ’ de Cage clama pelos sons mais leves de uma
orquestra barroca”, enfatiza Richter.
Os compositores – Um dos mais polêmicos
compositores contemporâneos – e ironicamente menos ouvido, pela dificuldade de
sua produção chegar ao público –, o norte-americano John Cage foi um dos
pioneiros daquilo que ficou conhecido como movimento da música aleatória, na
qual os elementos de composição são deixados ao acaso. O resultado é uma
linguagem pouco convencional, gerando uma música experimental, de textura
complexa e esteticamente desafiadora, com o uso de instrumentos não
convencionais ou a utilização não convencional de instrumentos conhecidos.
“Quarteto de Cordas em Quatro Partes ” foi
criado por John Cage em 1950, e é uma de suas útimas obras não inteiramente
aleatória, com a inclusão de harmonias tradicionais. Na peça, o compositor usou
uma nova técnica, que consiste em lidar com sonoridades fixas, ou acordes. O trabalho
explora ideias da filosofia indiana e é baseado nas quatro estações do ano –
primavera, verão, outono e inverno –, sendo que cada uma delas está associada a
uma força particular de criação, preservação, destruição e repouso. Desde 1946
o interesse de Cage estava em compor música para "uma mente sóbria e
tranquila, tornando-se suscetível às influências divinas", ao contrário de
música para expressar sentimentos e ideias.
Antonio Vivaldi nasceu em Veneza
(Itália) e tornou-se célebre por sua maestria musical e suas composições
barrocas. A música de Vivaldi é particularmente inovadora, quebrando com a
tradição consolidada em
esquemas. O compositor deu brilho à estrutura formal e
rítmica do concerto, repetidamente procurando contrastes harmônicos, inventando
melodias e trechos originais. Ele soube conciliar os elementos descritivos da
obra com suas exigências de músico puro, de inventor do concerto clássico.
Para atingir seus objetivos, Vivaldi
utiliza na obra “As Quatro Estações” os instrumentos de cordas com invenção e
engenhos ilimitados. Ouvindo-se a obra, é possível enxergar as paisagens, mas é
a beleza dos sons que emociona.
O diretor e solista – Rodolfo Richter é
considerado um dos violinistas barrocos mais inspirados de sua geração,
apresentando-se regularmente como solista e diretor de importantes conjuntos e
orquestras barrocas europeias, com recitais em todo o mundo. Além de gravar
discos na sua especialidade, também é respeitado compositor de música
contemporânea, resultando numa interessante abordagem da música antiga, cheia
de imaginação.
Tem colaborado regularmente em
concertos e gravações com músicos como Andrew Manze, Richard Egarr, Monica
Huggett, Giuliano Carmingola, Melvyn Tan, Roel Dieltiens, Gustav Leonhardt.
Como diretor, tem trabalhado com frequência ao lado de cantores como Juanita
Lascarro, Raquel Andueza, Simone Kermes, Gemma Bertagnolli e Bernarda Fink.
Desde 2002, Richter é membro do
aclamado Palladian Ensemble (atualmente conhecido como Palladians). Destaques
da temporada 2012-13 incluem apresentações na Inglaterra, Estados Unidos,
Canadá, China, Austrália, Bélgica, França, Holanda, Estônia, Alemanha e Japão.
Rodolfo iniciou seus estudos como
violinista moderno com Moysés de Castro, Wusthoff Klaus e Pinchas Zuckermann e
estudou composição com Hans-Joachim Koellreutter e Pierre Boulez. Mais tarde
especializou-se em violino barroco com Monica Huggett, na Royal Academy of
Music, e foi premiado no prestigiado Concurso Internacional de Early Music for
Ensembles, em Bruges (Bélgica – 2000), além de obter o primeiro prêmio no
Concurso Internacional de Violino Antonio Vivaldi (2001). Atualmente é spalla
da Academy of Ancient Music (Inglaterra), diretor convidado do Bach Collegium
San Diego (EUA) e professor de violino barroco no Royal College of Music em Londres. Também comanda cursos na Guildhall School
of Music and Drama (Londres) e na Royal
Scottish Academy
of Music and Drama (Glasgow - Escócia).
Os ingressos para os concertos custam
R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia), com pagamento somente em dinheiro.
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