O balanço do carimbó com um toque de
pimenta. O tempero adicionado ao gênero regional pela paraense Dona Onete fez
nascer um estilo “gostoso, feito pra dançar juntinho”: o tal “carimbó
chamegado”, espécie de marca registrada da cantora e compositora de 75 anos.
No show “Dona Onete Convida Mestre
Vieira”, com apresentações de 14 a 16 de novembro na Caixa Cultural Curitiba, a
musa do “carimbó chamegado” mostra toda a sensualidade do ritmo que vem
arrebatando plateias no Brasil e no mundo – seu primeiro CD, “Feitiço Caboclo”
(2013), está sendo lançado na Europa e nos EUA pelo selo inglês Mais Um Discos.
A estreia em Curitiba, para um público
pouco acostumado ao gênero, não intimida a cantora veterana. “Não me preocupo
com a receptividade porque sei que o som é tão contagiante que não há como não
como se entregar e dançar”, afirma Dona Onete. Ela promete trazer de Belém,
onde mora, a flor do jambu, típico tempero da culinária nortista. “Quero que as
pessoas saibam como é o tremor na língua”, diverte-se.
Dona Onete divide o palco com um amigo
de longa data, Mestre Vieira, precursor da “guitarrada” – um modo singular e
dançante de tocar guitarra que desenvolveu na década de 70 e que ganharia
repercussão nacional nos anos 1990, com o sucesso de grupos como Calypso.
“Nossa parceria dá muito certo. Nesse show vamos apresentar algumas referências
da lambada, do carimbó e do ver-o-peso”, diz a cantora.
Há também canções de sua autoria,
presentes em Feitiço Caboclo, como Proposta indecente, Amor brejeiro, Poder da
sedução, Moreno Morenado, Feitiço Caboclo e Jamburana. Além do carimbó, as
músicas do show dão conta de outros ritmos como a toada de boi-bumbá, a salsa
caribenha, o brega, o samba e até o rap.
Mestre Vieira entra em cena para tocar
algumas de suas músicas mais conhecidas, como Lambada do Rei, Pegando Corda e
Cidade Linda. A banda é formada por Pio Lobato (guitarra), Breno Oliveira
(baixo), Vovô (bateria), JP Cavalcante (percussão) e Daniel Serrão (sax e
teclado).
Trajetória - O envolvimento de Dona
Onete com a música regional é bem anterior à sua descoberta como “musa do
carimbó chamegado”. Durante 25 anos, ela foi professora de história, secretária
de cultura e fundadora de grupos de dança e música regional, como o Canarana,
na cidade de Igarapé-Miri, um reduto tradicional de boa música no Paraná. A
sorte seria lançada com a mudança da cantora, nascida em Cachoeira do Arararí,
para Belém.
“Na frente da minha casa, ensaiava um
grupo de carimbó chamado Raízes do Cafezal. Um dia resolvi descer e dar uma
palhinha num desses ensaios. Nessa época, fui descoberta e chamada para ser
cantora no grupo Coletivo Rádio Cipó (grupo pop com raízes regionais). Desde
então, tudo foi acontecendo naturalmente, nada foi premeditado”, lembra.
Mas, como surgiu o chamego no carimbó,
pitada de pimenta que fez de Dona Onete, dona de uma voz rouca e sensual,
“queridinha” da nova geração da música paraense? A cantora conta que sempre viu
beleza e sensualidade no ritmo do carimbó. “As meninas que dançavam no meu
grupo de carimbó eram muito bonitas e dançavam de tudo: carimbó, lundu, ciriá…
Todos ritmos paraenses. Essa mistura resulta num gingado único, tipicamente
paraense. O nome chamegado é derivado disso, um ritmo gostoso que é bom pra
dançar juntinho, mas não se restringe apenas ao carimbó”, conta ela, que tem
canções gravadas por Gaby Amarantos, entre outros artistas.
O pé na estrada para mostrar ao mundo
os ritmos de Feitiço Caboclo não impedem Dona Onete de planejar o lançamento de
um novo disco, já a caminho. “Vai se chamar ‘Banzeiro’ e vem cheio de boleros
chamegados, carimbó e Bangui”, entusiasma-se.
Recomendado para maiores de 14 anos, o
show “Dona Onete Convida Mestre Vieira” acontece sexta-feira e sábado, às 20h,
e domingo, às 19h, com ingressos custando R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia, conforme
legislação e correntistas que pagarem com cartão de débito Caixa). Mais
informações: 2118-5111.
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