Conhecido pela grande fascinação que
tem pela natureza, assim como a sua disposição aberta à viagem e à experiência
da paisagem, o artista plástico Marcelo Moscheta está apresentando a exposição
individual “Carbono 14” na SIM Galeria. A mostra é composta por pesquisas que
tratam da ordenação e classificação da paisagem, aproximando a estética
científica, como gráficos e nomenclaturas específicas, à leituras e abordagens
sensíveis da flora paranaense e brasileira. A exposição reúne fotografias,
desenhos e instalações.
A obra Linnaeus, que faz referência a
Carolus Linnaeus – o pai da classificação científica – é um trabalho feito à
quatro mãos. Em 2011, Marcelo viajou com o pai, que é botânico, para a
Amazônia, onde produziram a obra baseada na nomenclatura científica dos
vegetais amazônicos. Linnaeus é formada por caixas de arquivos vazias com
etiquetas indicando espécies científicas da Floresta Amazônica. "A ideia é
retratar que o mundo natural foi criado para que o homem pudesse reordená-lo. A
obra gira em torno do conceito da intermediação humana na natureza através de
métodos científicos", explica Moscheta. As etiquetas foram identificadas
com a escrita do pai de Marcelo Moscheta.
“Carbono
14”, série que batiza a exposição, traz desenhos de árvores brasileiras em
papel carbono. Os desenhos no carbono foram transferidos para outro papel, e o
que restou no carbono é uma sombra, uma subtração do desenho, como uma imagem
feita por radiação. "Gosto da forma como a Ciência organiza as coisas,
classifica a paisagem no entorno", define o artista.
A exposição ainda é formada por três
obras únicas: Propriedade, Batismo e Biblioteca Cromo-agronômica. De acordo com
Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake (São Paulo) – e autor do texto
de apresentação sobre a exposição Carbono 14 – esta última obra foi criada com
tabelas apropriadas e destacadas diretamente das páginas da enciclopédia de
jardinagem da coleção Biblioteca Agronômica, ‘como uma forma do artista
apresentar sua insuficiência diante da ilimitada complexidade da natureza'.
A referência à paisagem paranaense
ganha corpo em duas séries: A.A.A. (Arquivo Araucária Angustifolia) e Bicho do
Paraná. A primeira, A.A.A., resulta do tratamento minucioso da fotografia como
forma de análise de um objeto que se torna quase irreconhecível, sobrepujado
pelo volume das fotos dispostas como absurdas fichas de catalogação ou gavetas
de ficheiro.
Já na série Bicho do Paraná, as
intervenções de guache e colagem feitas por Moscheta sobre suas fotografias de
araucárias refletem um caráter artificioso na expansão desse símbolo regional.
Além disso, enfatiza a geometria intrínseca da árvore e faz uma paródia do
próprio espírito progressista que quer projetar sobre toda natureza uma
intencionalidade que, a rigor, é totalmente estranha à vida das plantas.
"Colei réguas e compassos, transferidores e escalas sobre as imagens, para
depois fazer uma intervenção com guache e criar uma relação de construção
formal com a geometria das árvores, acrescentando anotações de esquemas",
informa Moscheta.
"Nessa série, juntei a ideia da disseminação das árvores de
araucárias pelos índios da tradição Gê – dá a entender que foi planejada sua
ocupação pelos campos do Sul do país – a uma música que ouvia na TV quando era
criança, em Maringá, a propaganda da emissora mostrava sempre uma cidade
paranaense e depois uma araucária, construindo uma imagem referencial da
cultura local sempre ligada à esse ícone estadual. E na música do João Lopes, o
refrão cantava: 'eu não sou gato de Ipanema, sou bicho do Paraná'", conta
o artista.
A exposição “Carbono 14” pode ser
visitada até dia 1º de agosto, de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das
10h às 15h. Mais informações: www.simgaleria.com.
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