A Casa Hoffmann – Centro de Estudos do
Movimento recebe, na próxima sexta-feira (12), a estreia da peça “Incêndio”, de
Ana Ferreira. O trabalho solo da artista e pesquisadora cênica fica em cartaz
até o dia 28 de junho com exibições de sexta a domingo, às 20h.
“Incêndio” mescla performance, teatro e
dança e para Ana Ferreira, integrante do Agora Coletivo, a dramaturgia do
projeto estabelece níveis sobrepostos de narrativa: mítico, episódico e autorreflexivo.
No primeiro, o fogo aparece como a
fonte da vida, como aquilo que nos consome o tempo todo e, desse modo, é a
própria essência da existência. Dele, decorre o segundo, uma ficção inspirada
pelo poema “A voz do povo de Hölderlin”. Nela, um grupo de pessoas se joga num
incêndio ao invés de combatê-lo. Este desejo pela morte é colocado pelo poeta
num lugar de sublimação. Ao contrário de uma recusa da vida, é uma atração
muito grande por sua característica maior: o consumo, o acabar, o passar. Este
lugar do mergulho no abismo é, para Hölderlin e para este espetáculo, também o
da arte, da onde surge o nível autorreflexivo ou performativo da peça. Seu
discurso chama a atenção para a posição em que a atriz se coloca no palco e a
que o próprio público se põe ao ir ao teatro: a da busca por esta intensidade
que está intimamente ligada ao vazio, ao desapego, ao deixar passar, deixar
morrer.
O projeto se designa um work in
process, pois pretende continuar explorando formas do público se encontrar com
este incêndio. Este primeiro formato investe mais na duplicidade entre
realidade e ficção. A atriz se apresenta como “si mesma”: uma imagem preparada
e artificial de si, ao mesmo tempo em que inevitavelmente um “si” que, no agora
fugaz, é presença real e tem algo de incontrolável. Assim, a metáfora do fogo
se faz na relação entre clareza, iluminação, versus descontrole e o
incomunicável do corpo presente.
Sobre a artista - Ana Ferreira é mestre
em Letras pela Universidade Federal do Paraná, onde estudou a forma paradoxal
através da qual James Joyce tece uma rede de associações no complexo romance
Finnegans Wake (1939), algo que Ana Ferreira busca investigar cenicamente neste
projeto solo, bem como a sobreposição de níveis narrativos realizada pelo
autor.
Recentemente, a artista deu início a um
novo projeto de parcerias criativas, o Agora Coletivo, cujo primeiro trabalho a
assinar é o solo Incêndio. O grupo busca empreender formas diversas de
interação com o público e investiga uma dramaturgia contemporânea.
A Casa Hoffmann está situada na Rua
Claudino dos Santos, 58, Largo da Ordem e o espetáculo “Incêndios” é indicado
para maiores de 16 anos e tem ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia).
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