Numa viagem pela memória dos bares e
restaurantes da cidade lembramo-nos de personagens que criaram uma
identificação total com o seu trabalho, chegando mesmo a sintetizá-lo em seu
nome.
Nos tempo do Bar Cometa, Dalmo era
lembrança do pernil com verde e queijo; Carlos Gomes no Restaurante Rio Branco;
Dino, do Stuart, onde trabalhou por 38 anos – começou ali aos 14 anos e acabou
tornando-se proprietário; Ramiro e Pedro, do Imperial; Ligeirinho, que tem hoje
bar com seu nome; o Pepe, do Bar Palácio; o Isaltino, do Tortuga...
Hoje, com a velocidade da informação,
nomes chegam e desaparecem rapidamente. Não chegam a se firmar. Salvo se...
Está aí a diferença! Exatamente no
“salvo se...”.
Salvo se o profissional foi moldado, ao
longo da vida, para a profissão. É isto que está fazendo o diferencial do Vovô,
maitre (e gerente!) da Mercearia Bresser, no Batel. Aos 14 anos, caçula dos 16
filhos de Francisco Aderaldo e Ana Raimunda, saiu da pequena Jaguaretama, no
Ceará, para visitar um dos irmãos, que trabalhava num bar, em São Paulo.
Encantou-se com a cidade e pediu para ficar. E ficou por lá durante 34 anos.
Nos cinco primeiros, ajudando o irmão no bar. Com a maioridade resolveu abrir
as asas e arriscar voos mais altos. Pousou, como garçom, na La Trattoria,
cantina famosa, no bairro Pinheiros, na capital paulista. Ficou por lá 15 anos
e ficou amigo de uma legião de artistas, que se reuniam ali nas noites de
domingo. Aracy Balabanian, Jô Soares, Leão Lobo, Marco Nanini, Ney Matogrosso -
“sempre com gorjetas generosas”. Isto até o pessoal da cozinha reclamar que a
reunião dos artistas ia até muito tarde nos encontros dominicais. De lá foi
para outras cantinas - La Buca Romana (na Oscar Freire), Don Pepe di Napoli,
Moinho Santo Antonio, onde servia sempre Chiquinho Scarpa. Vovô fala da
generosidade de Chiquinho e da sua mania em só pegar na caneta para assinar o
cheque. “O secretário do Chiquinho pegava a caneta do bolso do chefe, preenchia
o cheque, Chiquinho assinava e a colocava em seu bolso”, relembra o maitre, com
uma gostosa gargalhada. Do Santo Antonio foi para a Pizzaria Brás, onde
conheceu um velho habitué da casa - Oduvaldo Barranco.
Barranco, morador da Mooca, amante de
vinhos e pizzas, resolveu materializar um velho sonho: ter a sua própria
pizzaria! E viu que Curitiba seria o lugar ideal. Do sonho partiu para a ação.
E aquele garçom de cabelos grisalhos, surgidos precocemente, conhecido por
Vovô, foi um dos nomes convidados para a empreitada.
Assim, desde 14 de julho de 2005, Vovô
(Francisco Silva só aparece em seus documentos) está na Bresser, colocando aos
clientes seus 44 anos de experiência na delicada missão de bem servir à
clientela e comandar a equipe de funcionários da Mercearia Bresser Batel.
Para os clientes da pizzaria, Vovô tem
dois traços indispensáveis para a função: a boa memória e facilidade de
comunicação. Assim ele vai marcando sua presença na Bresser e colocando seu
nome naquela galeria de garçons e maitres da gastronomia curitibana.
A propósito, Vovô dá suas preferências
no cardápio da Bresser: como entrada, Bresaola ou Silva Telles: pizza Bresser
ou Vila Judite; sobremesa Bistelo ou goiabada caseira com catupiry. E para
arrematar, o café corto com sambuca italiano.
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