O fotojornalista paranaense Leandro
Taques lança nesta terça-feira (2), a partir das 19 horas no Museu da
Fotografia Cidade de Curitiba, no Solar do Barão, o livro San Lazaro – Babalú
Ayê, que retrata a fé e dor de milhares de pessoas que participam, em Cuba, de
três dias de festa e peregrinação pelo santo.
O livro vira realidade depois do sucesso na arrecadação de recursos por
meio do crowdfunding (financiamento coletivo), que ultrapassou os cerca de R$
30 mil necessários para a publicação da obra. Junto com o lançamento, o espaço
abrigará também exposição com várias fotos sobre o tema, que ficará em cartaz
até o dia 12 de junho.
Com 90 fotos, extraídas de mais de 4
mil imagens feitas durante as festas de San Lázaro em 2012 e em 2014, o livro
retrata diversos personagens que cumprem uma promessa em pagamento a uma graça
ou milagre do santo ou que vão pedir por alguma ajuda. São mulheres, crianças,
homens… peregrinos de todas as classes e regiões que formam um só corpo a
caminho do Santuário Nacional, em Rincon, pequeno vilarejo perto da capital
Havana. O ápice da festa acontece em 17 de dezembro, em que se comemora o Dia
de San Lázaro.
Muitos realizam a peregrinação mesmo
doentes, de joelhos ou até rastejando, os pés descalços, as mãos calejadas.
Alguns puxam pedras amarradas aos pés. Outros arrastam correntes por dias ou
até semanas. “São imagens fortes, de entrega e devoção dos peregrinos. É
emocionante e ao mesmo tempo chocante ver aquele misto de satisfação e dor nas
pessoas”, conta Leandro.
A explicação para tanta devoção está na
história de San Lázaro, um dos santos mais venerados em Cuba. É ele quem
protege aqueles que mais necessitam, não importa a gravidade do problema ou da
doença. É o protetor dos enfermos, é a personificação dos pobres e excluídos da
sociedade. Para os católicos, San Lazaro. Na Santeria, é conhecido como Babalú
Ayê, também chamado de “el viejo” ou “el milagroso”. Independente da religião,
a fé de seus seguidores é a mesma.
Financiamento coletivo - O primeiro
contato de Leandro Taques com a festa de San Lázaro se deu em 2012, quando foi
fotografar o evento inspirado no trabalho do fotógrafo cubano Raul Canibaño,
que, junto com outros fotógrafos, havia publicado um livro sobre San Lázaro.
Leandro conheceu Raul em 2011 e decidiu que em 2012 estaria novamente em Cuba
para registrar a romaria.
Nesta época, o fotojornalista já havia
despertado o interesse pelo crowdfunding e viu na romaria cubana a
possibilidade de fazer o seu primeiro projeto pelo financiamento coletivo.
“Estudei bastante o sistema e me deixei levar pelo desafio de produzir um
material fotograficamente rico em imagens e viabilizá-lo em forma de livro com
a ajuda das pessoas”.
Pelo financiamento coletivo, as pessoas
contribuíram com o projeto San Lazaro – Babalú Ayê com valores entre R$ 25 a R$
2 mil, investidos em diferentes recompensas. Desde um agradecimento, exemplares
do livro, cópias fotográficas em fine art, camisetas personalizadas e até
portfólios exclusivos do fotógrafo. “Fiquei muito contente com o resultado por
que as pessoas acreditaram no projeto. Confiaram. Talvez um dos maiores
desafios do crowdfunding seja esse. Você vender algo que ainda não existe. No
nosso projeto houve essa confiança”.
O crowdfunding surgiu nos Estados
Unidos, em 2009, e usualmente tem o objetivo de arrecadar dinheiro para
artistas, pequenos negócios e lançamentos de campanhas de variados gêneros e
ações de filantropia, bem como ajudar regiões atingidas por desastres, por
exemplo. Geralmente é estipulada uma meta de arrecadação que deve ser atingida
para viabilização do projeto. Caso os recursos arrecadados fiquem abaixo da
meta, a proposta não é financiada e o montante arrecadado retorna aos doadores.
No caso do projeto San Lazaro-Babalú Ayê, eram necessários R$ 29.750,00 e a
arrecadação ultrapassou os R$ 37 mil.
Sobre o autor - Professor do Centro
Europeu, em Curitiba, Leandro Taques é formado em Jornalismo pela Universidade
Tuiuti do Paraná, com pós-graduação em Fotografia pelas Faculdades Curitiba e
em Fotografia enquanto Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais pela
Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Em 2006, uma viagem para Angola,
na África, resultou no projeto O Retrato da Paz, com livro homônimo e uma
exposição que rodou o Brasil. Esse trabalho rendeu menção especial no Prêmio
Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, além de imagens
selecionadas para o acervo permanente da Maison Europeenne de la Photographie,
em Paris, França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário