quinta-feira, 29 de maio de 2014

A violência pela ótica infantil na Caixa Cultural Curitiba

A lógica da guerra revelada pelas brincadeiras de quatro crianças. Em “Histórias de Família”, da companhia carioca Amok Teatro, os personagens reproduzem o comportamento de adultos desorientados em meio à desintegração da antiga Iugoslávia. Última parte da “Trilogia da Guerra” – iniciada por “O Dragão”, de 2009, e seguida por “Kabul”, de 2010 –, o espetáculo renova a linguagem da companhia, que ainda não havia se debruçado sobre um texto dramático contemporâneo.
Queríamos um texto de um autor para encerrar a trilogia”, diz Ana Teixeira, que dirige a peça e a companhia em parceria com Stephane Brodt. A montagem, entretanto, não se prende ao texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, traduzido por Ana e Jadrana Andjelic. “O texto é matéria fixa que vive quando encontra o ator. Não temos compromisso de fidelidade ao autor, a cena tem sua vida própria”, explica.
Dois planos estruturam “Histórias de Família”. No primeiro deles, o comportamento delirante dos adultos é revelado pelas quatro crianças que brincam de família. Em cena, Rosana Barros, Stephane Brodt, Vanessa Dias e Wanderson Rosceno evitam o infantilismo. “Pelo teatro, que é lúdico em sua essência, buscamos a infância”, explica Ana. O que, de todo modo, não evita alguns risos da plateia. “É o riso da ordem da derrisão, o riso amarelo, o cômico que vem do absurdo”, diz a diretora.
No segundo plano, uma criança permanece à parte, privada das brincadeiras. “Há uma tensão entre esses dois polos. A criança, que revela o trauma da guerra, mesmo sem palavras, é inspirada em uma menina que existe de fato”, explica Ana. A inserção de uma história real na narrativa fictícia está relacionada à pesquisa sobre realidade e teatro empreendida na trilogia – “O Dragão” foi escrito com base em relatos e entrevistas e “Kabul” aborda a perda de mães em luto pela morte de seus filhos pelo diálogo entre depoimentos reais e a obra literária “As Andorinhas de Cabul”, de Yasmina Khadra.

Barbárie em cena - No palco, a Amok não mostra apenas a barbárie que afligiu a região dos Balcãs nos anos 1990, mas também a que assola cotidianamente as pessoas que vivem em grandes centros urbanos. “A guerra, em nosso trabalho, é abordada no plano humano, ou seja, o que está em cena não é contexto específico de guerra, mas a dor da violência e de que modo ela ressoa dentro de nós mesmos”, explica a diretora.
O trabalho corporal dos atores da companhia, que tem como suporte a técnica da Escola de Mímica Dramática, do francês Etiénne Decroux, é ainda mais minucioso nesta peça. “Não consigo imaginar um teatro que não seja físico. O teatro só existe quando o ator está fisicamente presente diante de outros corpos. No caso da infância, a criança chora com o corpo, brinca com o corpo, por isso, é inimaginável tratar a infância sem que haja um trabalho corporal”, afirma Ana.
A peça “Histórias de Família” terá encenações de quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Os ingressos custam R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia) e o espetáculo é indicado para maiores de 12 anos. Mais informações: 2118-5111.


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